encontro de fevereiro: amargo, pq a vida já é doce demais

A segunda reunião foi ruidosa. Nem tanto por nossa parte, acredite!, mas a Editora Patuá completou 3 anos de existência – dessa maneira, enquanto nos concentrávamos experimentando cervejas na sala de oficinas do Hussardos Clube Literário, o salão principal era de clamores de pessoas se abraçando, poemas sendo ditos, livros folheados e bons amigos se reencontrando. Ruído mais do que propício.

O tema pré-carnavalesco era “AMARGO, pq a vida já é doce demais” (leia aqui a convocação).

A apresentação dxs participantes dessa rodada foi com a pergunta: “você se recorda quando foi a primeira vez em que bebeu cerveja?”. Muitos não se lembravam. Entretanto, uma se recordava da primeira Guiness e outro da ida à Inglaterra, quando tomou uma Bitter. Amargamente notadas.

Bem, começamos discorrendo um pouco sobre os discursos no português brasileiro a respeito da palavra “amargo” (algo desta introdução reuni neste post), depois falamos sobre a questão histórica que envolve o uso do lúpulo – santa Hildegarda!, com explicações a respeito da escola inglesa e da escola americana. A parte “mito histórico” versus “a história da cerveja”, dessa vez, ficou por conta das lendas que envolvem a consolidação das Indias Pale Ale (IPA), hehe, olhe, nessa matéria o tombadinho é sempre escorregadio e balaaança…

O lúpulo é um ingrediente fundamental na cerveja, pois garante que a fermentação feita pelas queridas leveduras ocorra sem a intromissão de visitantes indesejáveis, entre outras admiráveis propriedades (antes, xs cervejeirxs utilizavam muitas ervas e condimentos – a Mayara comentou deste projeto da Nacional, que fabrica uma cerveja sem lúpulo pra quem quiser experimentar). É o lúpulo que confere o sabor amargo à cerveja e muitos de seus aromas interessantes.

Assim, levamos dois tipos de lúpulos em pallets – o fuggle e o chinook, ambos utilizados nas famílias das ales (leia + sobre os tipos aqui). O primeiro, de linha inglesa, mais antigo e tradicional, com seu aroma mais sóbrio e fechado. O segundo, mais moderno e norte-americano, com aroma mais pronunciado, cítrico – e deu para ficar clara a diferença no cheiro de cada um quando seco e imaginar que está à mão dxs mestres cervejeirxs uma diversidade grande de possibilidades… Também levamos flores de lúpulo secas, cortesia do Rodrigo Louro, professor da Sinnatrah Cervejaria Escola. Assim foi possível ver seu tamanho e sua delicadeza.

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Na parte de experimentações, a ordem foi a seguinte:

1. As American Pale Ale Ouropretanas!

1925305_514633995312571_559826350_nIniciamos com a maravilhosa iniciativa da Mayara de trazer de Ouro Preto as belezinhas na mala.

Não necessariamente amargas, mas dando início ao interessante caminho do amargor e com aromas incríveis. Por ser uma cervejaria com distribuição regional, não descobrimos o IBU dessas Ouropretanas (não é muito simples auferir o índice de amargor sem um laboratório um tanto equipado).

Falamos da importância dos mineiros na produção de cerveira (oh, Minas é amor!), trocamos ideias e comentários a respeito da cor, corpo, formação de espuma, enfim, colocamos na roda e bebemos.

 

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2. A segunda foi a B’IPA – Braz’India Pale Ale, versão da Sinnatrah Cervejaria Escola para o estilo inglês clássico, criação do Rodrigo Louro e Alexandre Sigolo.

1924451_514634555312515_1018635696_nPara nós do grupo, trazer esta breja é o coração da Hildegarda: queremos sempre trazer experimentações, cervejas feitas em escolas, em casa, de amigos, as conhecidas “cervejas de panela”, enfim, ter acesso a muito do criativo que está por aí na cidade e não se pode vender, pelas questões legais chatíssimas que envolvem a produção (afinal, cerveja de milho indiscriminadamente pode, cerveja de micro-produtores não). Se não podemos vender, degustemos pois.

O Rodrigo fez um texto sobre a B’IPA para nós, reproduzo um trecho:

“Na versão Sinnatrah da India Pale Ale resolvemos misturar origens (assim como as nossas origens como brasileiros) e assim diversas variedades de lúpulos são utilizadas. Tanto potentes lúpulos americanos para amargor, quanto delicados lúpulos ingleses, conferindo amargor incisivo, mas equilibrado e evidente aroma terroso e herbal. Os lotes possuem geralmente teor alcoólico entre 6% e 7% e, nesse específico, temos 6,9%. Sempre buscamos a cor âmbar claro, que lembra gasolina. Em geral, os lotes são bem secos, mas nesse específico, deixamos um teor extra de açúcar residual para a realização de um experimento de re-fermentação por leveduras selvagens (aguardem a novidade! Está no fermentador!). Dessa forma, a cerveja ficou com um interessante balanço entre dulçor e amargor, o que propicia que ela se torne uma cerveja bastante indicada para acompanhar alimentos mais salgados e condimentados. (…)

A B’IPA já fez algumas estreias como cerveja comercial sendo oferecida como cerveja sazonal convidada na Cervejaria Nacional em Pinheiros. Sua versão servida em filtro de lúpulos já fez diversos marmanjos amantes do amargor chorar lágrimas lupulinas de felicidade! Ela será lançada comercialmente (sua versão mais seca e 100% leveduras de Ale) no segundo semestre desse ano.

Até lá, vocês podem consumir novamente a B’IPA durante nossa festa do dia de São Patrício (St. Patrick`s Day) no dia 22 de março ou de surpresa como cerveja de beerbreak durante algum de nossos cursos”.

Mais sobre a Sinnatrah Cervejaria Escola aqui. Agradecemos muito a parceria, a gentileza e as muitas bolachas com o gatinho!

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3. Vixnu

1926882_514636051979032_1409619341_nO terceiro estilo ficou por conta da nossa admiração-semi-tiete à Colorado: fomos de Vixnu!

Desenhada como Double India Pale Ale, apresentada como Imperial Doube IPA, a Vixnu apresenta um balanço creio eu perfeito entre o doce da rapadura, o amargo e a carbonatação… seus 75 de IBU não assustam ninguém, mais tonteiam com sua gradação alcoólica de 9,5%. Para quem tinha algum temor reverencial das cervejas muito amargas, imagino que tenha sido uma experiência para não esquecer e se embrenhar ali pelas selvas de lupulinas…
A Colorado tinha um projeto de vender a Vixnu resfriada da fábrica até a mesa do consumidor final (vídeo aqui, eu ri, pois acaba na mesa do Império, digo, Empório Alto de Pinheiros) para garantir esses lúpulos com o maior frescor possível.

Bem, as que tomamos vieram no porta-malas da querida Roberta Ferraz, após uma visita que fizemos à fábrica em Ribeirão Preto, aproveitando que estávamos na gloriosa cidade pro lançamento do livro de poemas “Saturação de Saturno“.

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Em resumo, o encontro foi muito produtivo, cumprimos os objetivos de trazer coisas lindas da produção nacional, oferecemos a “degustação sem miséria” como compete a poetas, uma tarde das melhores.

O próximo encontro será a respeito do tema “Cerveja e Mulheres”. Hum, mal podemos esperar! ;)

[veja todas as fotos aqui, feitas pelo fotógrafo Ícaro Mello, que não sabe apenas clicar e sim também abrir garrafa na faca]

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